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CIEJA Campo Limpo

"Não vai perguntar qual crime cometi?", é a frequente primeira pergunta dos alunos ingressantes do CIEJA Campo Limpo. Uma escola que deixa seu portão aberto o dia todo, mesmo em um bairro tão marcado pela violência como o Capão redondo, conseguiu encontrar formas de dialogar com a comunidade e com os interesses dos alunos.

O Centro Integrado de Educação para Jovens e Adultos Campo Limpo nem sempre foi assim, quando a atual diretora, Eda Luiz, entrou, a escola passou por toda uma mudança no modelo. A transformação foi baseada no acolhimento: além do portão que fica aberto, a ausência de câmeras de vigilância e de sirene, banheiros sem divisão, o lanche sendo servido pelos alunos e uma biblioteca aberta para toda a comunidade (até moradores de rua podem usufruir).

 

Ao se dar conta de que a taxa de evasão dos alunos se dava pelo fato de a maioria trabalhar e não conseguir encaixar seus horários com as aulas, além de outras questões, Eda decidiu reformular o Projeto Político Pedagógico. Envolvendo não só alunos, mas também a família e os funcionários para pensar em uma proposta que atendesse às necessidades de todos. 

 

Dessa forma, as aulas passaram a ser mais flexíveis. Os alunos podem optar por três turnos, assim, quando não conseguem ir na aula da noite, vão durante a manhã e vice-versa.  

O grande desafio foi trazer o público do tráfico, pensar em um tipo de escola capaz de inserir todos. De início, o governo queria acabar

com o projeto, só após anos de luta que o projeto foi aceito. Eda contou que grande parte dos alunos não foram aceitos em nenhum

outro lugar. "Eles chegam aqui esperando um não, quando ouvem um sim mal podem acreditar. A mãe chega a se ajoelhar e chorar", 

disse a diretora. A escola busca trazer essa inclusão formando e informando os indivíduos de seus direitos. Eda afirmou que o CIEJA não faz nada além do que deveria ser feito e, justamente por isso, os pais e alunos não deveriam achar esse máximo, deveria ser algo normal.

 

Assim como na Politeia, são realizadas assembleias para a tomada de decisões, as aulas não são fragmentadas e os temas a serem estudados são lançados pelos próprios alunos. O modelo baseia-se também na constante integração entre as disciplinas, fazendo com que uma área do conhecimento possa ser usada para entender outra.

O CIEJA Campo Limpo não é apenas uma escola democrática, onde professores e alunos ensinam e aprendem juntos. É, também, um refúgio para grande parte da comunidade que, muitas vezes, não tem nem o que comer e só lá encontra ajuda. Eda concluiu que o grande problema da sociedade é que as pessoas não se apropriam do que é delas por direito e os espaços sociais não procuram um caminho para atender essa comunidade. 

O currículo foi dividido em quatro módulos: alfabetização, básico, complementar e final. Enquanto que cada módulo passou a ter quatro áreas do conhecimento: Linguagens e Códigos (português e inglês), Ciências Humanas (história e geografia), Ensaios Lógicos e Artísticos (artes e matemática) e Ciências do Pensamento (ciências e filosofia). Após a mudança, alunos com diferentes tipos de deficiência começaram a ingressar na escola. Isto fez com que o ponto de partida do projeto se tornasse a inclusão de cegos, surdos, cadeirantes e deficientes intelectuais. O Café Terapêutico e as rampas para deficientes físicos, por exemplo, são resultados disso.

Feito por Natalia Vieira, estudante de jornalismo da faculdade Cásper Líbero.

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